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Bolivianos conhecem relacionamento do Estado brasileiro com suas estatais

Missão do governo de Evo Morales busca no Brasil cooperação técnica para implementar sua Lei de Empresas Públicas

Delegação do governo boliviano que está no Brasil com a missão de recolher informações sobre relacionamento do Estado e a política das empresas estatais brasileiras foi recebida hoje no Ministério do Planejamento pela secretária-executiva Eva Chiavon e pelo diretor do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest/MP), Murilo Barella, e sua equipe.


Fotos: Ilkens Souza/Divulgação

A missão boliviana, com quatro integrantes, é chefiada pela diretora-geral de Desenvolvimento Comunitário e da Economia Plural do Ministério do Planejamento do Desenvolvimento, Silvana Bacarreza.

No final do ano passado, a Bolívia aprovou a Lei de Empresas Públicas, que redesenhou seu sistema estatal. Diante do desafio de implementar esse novo modelo, os bolivianos estão procurando conhecer a experiência de outros países. E o Brasil, que tem um sistema de estatais já consolidado, com boas práticas de governança corporativa, de supervisão da gestão financeira, e do planejamento estratégico das estatais, é considerado referência.

O modelo brasileiro foi apresentado aos bolivianos em detalhes e de forma didática pelo diretor Murilo Barella (veja a apresentação). Sua dimensão política foi definida assim, pela secretária Eva Chiavon, no discurso de boas-vindas à delegação:

"É um modelo que visa ter empresas lucrativas e eficientes, mas o resultado da sua produção tem de estar voltado, necessariamente, para o bem-estar da sociedade. Não pode haver a cultura de que elas, as empresas, são um fim em si mesmas", explicou.  

"Elas compõem o Estado brasileiro e têm, como tal, de colaborar com as políticas públicas e os investimentos do Estado, como ocorre no Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, onde colaboram para que possamos ter uma infraestrutura social, logística e urbana", completou a titular da Secretaria Executiva do MP.

Esse papel foi reforçado pelo diretor do Dest, Murilo Barella, citando a integração e a convergência de ações nos programas Luz para Todos, Pronaf e Minha Casa Minha Vida. Ele acrescentou, ainda, outro aspecto em que a função das empresas estatais pode ser decisiva para o país: o de reguladoras do mercado, como ocorreu durante a crise financeira internacional de 2009.

Ao discorrer sobre autonomia e apontar as diferenças em relação às autarquias (juridicamente são empresas, com dinâmica própria), Barella mostrou como as estatais do setor financeiro funcionaram recentemente como reguladoras do mercado:

"Naquele período de crise, houve um enxugamento de crédito no mundo inteiro, e no Brasil não foi diferente. Se não tivéssemos bancos públicos haveria problemas sérios de falta de recursos", disse.

"O Tesouro Nacional, em conjunto com o Banco Central, injetou na economia cerca de R$ 100 bilhões, o equivalente ao que os EUA injetaram em dólares para salvar o México da crise de 1995. Foi esse dinheiro, disponibilizado pelos bancos públicos brasileiros, que destravou a economia do país", explicou, ressalvando a utilização de mecanismos adicionais, como a redução do compulsório dos bancos, o que também propiciou novos recursos no mercado.

MODELO BOLIVIANO

A representante do governo de Evo Morales, Silvana Bacarreza, do Ministério do Planejamento do Desenvolvimento, explicou que a lei aprovada em dezembro do ano passado em seu país cria quatro tipos de empresas públicas: a Estatal pura, controlada 100% pelo Estado, sem acionistas; a Empresa Estatal Mista, onde o Estado controla entre 70% e 99%; a Empresa Mista, em que a participação oficial varia de 51% a 70%; e a Empresa Estatal Intergovernamental, onde o Estado central controla 51% e os 49% restantes são divididos entre acionistas privados e ETAs, EntidadesTerritoriais Autônomas. (Veja a apresentação)

Em todas elas, a instância máxima é o Conselho Superior Estratégico das Empresas Públicas (Coseep), formado por três ministros: os da Casa Civil da Presidência; do Planejamento do Desenvolvimento; e da Economia e Finanças Públicas.

É esse conselho de ministros quem define as políticas, estratégias e normas gerais para a gestão das empresas, nomeia e demite os dirigentes, assim como avalia o desempenho e aponta as correções de rumo necessárias.

Todo o setor de petróleo e hidrocarbonetos da Bolívia, principais riquezas do país, está contido no modelo de Estatal, controlado totalmente pelo governo. Nesse caso, estão relacionadas empresas como a YPFB (Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos), responsável pelo refino e venda de petróleo e gás; a Ende (Empresa Nacional de Electricidad), do setor de energia elétrica; e a Comibol (Corporación Minera de Bolivia), responsável pelo setor de mineração.

Além da reunião com os representantes do Ministério do Planejamento, a delegação boliviana visita quatro empresas estatais: Embrapa, Eletronorte, Petrobras e EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

 

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